Portugueses têm hoje "mais consciência" sobre a Alemanha

Os cidadãos portugueses têm hoje "mais consciência sobre o país chamado Alemanha", o que não se traduziu em "mais animosidade", mas aumentou "a polémica", considera o diretor do instituto alemão Goethe.
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Enquanto duas centenas de pessoas se concentravam no jardim do instituto de alemão, em Lisboa, para acompanhar os resultados das eleições de hoje na Alemanha - munidas de canecas de cerveja e salsichas no pão -, Joachim Bernauer reconheceu à Lusa que a Alemanha está hoje sob "um radar mais preciso" em Portugal. "Há mais pessoas que acham 'o que lá acontece tem a ver connosco'", diz.

A política alemã gera hoje "mais polémica", mas não "mais animosidade", descarta, salientando as "tantas manifestações (...) de respeito" de quem quer "entender melhor" o que "funciona bem" na Alemanha.

"Durante dezenas de anos, a Alemanha foi amiga de Portugal e não gerou grandes polémicas. Agora gera polémicas. Não estávamos habituados a isso, são vozes necessárias e legítimas, mas não há uma opinião geral que odeia a Alemanha, nada disso", realça.

Antes do fecho das urnas, a embaixada da Alemanha em Lisboa e o Goethe promoveram uma votação entre os cidadãos reunidos no jardim do instituto.

Em geral, os resultados foram "chocantemente parecidos" com as tendências nacionais, embora com algumas particularidades. "O nosso eleitorado no jardim tem uma tendência verde (...) Eles dobram o resultado aqui", aponta Joachim Bernauer, recordando que há quatro anos se verificou a mesma tendência.

Por outro lado, o diretor do Goethe confessa-se "chocado" com o resultado do AfD (extrema-direita, anti-euro), que não ficou longe, entre os eleitores no jardim, dos 4,9 por cento que as sondagens lhe atribuem na Alemanha e que o colocam à porta do Parlamento federal.

"A posição geral é que as pessoas querem que a política da CDU/CSU continue, mas não com o FDP [liberais, que estavam coligados com partido de Merkel]. Isso é claro", resume.

Joachim Bernauer observa ainda que os partidos conservadores na Alemanha têm, "normalmente", uma "política para a cultura com mais entusiasmo".

Se comparado, a cultura tem em Portugal "muito menos" peso político do que na Alemanha, onde "os partidos tradicionais se orgulham de apoiar a cultura", distingue.

A culpa não é só dos políticos, é também dos cidadãos. "Cada cidade [alemã] tem uma vida cultural forte e o eleitorado exige dos políticos que possibilitem essa vida cultural", assinala. Em Portugal, "não há essa tradição, o eleitorado aqui não exige dos políticos e então os políticos dizem 'então também não vamos gastar, porque ninguém chora, vamos cortar'", compara.

Qualificando o investimento na cultura em Portugal como "irrisório", o diretor do Goethe considera "um milagre" que ela aconteça na mesma. "É impressionante como os artistas, os teatros, os músicos fazem uma vida cultural como se tivessem grandes subsídios, e não têm", destaca.

Segundo Joachim Bernauer, cerca de mil portugueses estudam atualmente no instituto Goethe, que vem recebendo "cada vez mais alunos" para aprenderem "uma língua que dá acesso a muita coisa" e é, por isso, "um bom investimento".

Os jovens que estudam no instituto "têm uma opinião crítica, graças a Deus", mas não só sobre a Alemanha, sobre a Europa em geral, realça.

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